O salmo 22 é uma das passagens mais intensas e emocionantes do Livro dos Salmos. Ele começa com um grito de abandono, mas termina com uma poderosa declaração de confiança. Neste artigo, vamos mergulhar nas profundezas desse salmo, entendendo seu contexto histórico, simbologia, interpretações espirituais e como ele se conecta com a experiência humana de dor, fé e redenção.
Salmo 22 Completo
¹ Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas do meu auxílio e das palavras do meu bramido?
² Deus meu, eu clamo de dia, e tu não me ouves; de noite, e não tenho sossego.
³ Porém tu és santo, tu que habitas entre os louvores de Israel.
⁴ Em ti confiaram nossos pais; confiaram, e tu os livraste.
⁵ A ti clamaram e escaparam; em ti confiaram, e não foram confundidos.
⁶ Mas eu sou verme, e não homem, opróbrio dos homens e desprezado do povo.
⁷ Todos os que me veem zombam de mim, estendem os lábios e meneiam a cabeça, dizendo:
⁸ Confiou no Senhor, que o livre; livre-o, pois nele tem prazer.
⁹ Mas tu és o que me tiraste do ventre; fizeste-me confiar, estando aos seios de minha mãe.
¹⁰ Sobre ti fui lançado desde a madre; tu és o meu Deus desde o ventre de minha mãe.
¹¹ Não te alongues de mim, pois a angústia está perto, e não há quem ajude.
¹² Muitos touros me cercaram; fortes touros de Basã me rodearam.
¹³ Abriram contra mim suas bocas, como um leão que despedaça e que ruge.
¹⁴ Como água me derramei, e todos os meus ossos se desconjuntaram; o meu coração é como cera, derreteu-se no meio das minhas entranhas.
¹⁵ A minha força se secou como um caco, e a língua se me pega ao paladar; e me puseste no pó da morte.
¹⁶ Pois me rodearam cães; o ajuntamento de malfeitores me cercou, traspassaram-me as mãos e os pés.
¹⁷ Poderia contar todos os meus ossos; eles veem e me contemplam.
¹⁸ Repartem entre si as minhas vestes, e lançam sortes sobre a minha roupa.
¹⁹ Mas tu, Senhor, não te alongues de mim. Força minha, apressa-te em socorrer-me.
²⁰ Livra a minha alma da espada, e a minha predileta da força do cão.
²¹ Salva-me da boca do leão; sim, ouviste-me, das pontas dos bois selvagens.
²² Então declararei o teu nome aos meus irmãos; louvar-te-ei no meio da congregação.
²³ Vós, que temeis ao Senhor, louvai-o; todos vós, semente de Jacó, glorificai-o; e temei-o todos vós, semente de Israel.
²⁴ Porque não desprezou nem abominou a aflição do aflito, nem escondeu dele o seu rosto; antes, quando ele clamou, o ouviu.
²⁵ O meu louvor será de ti na grande congregação; pagarei os meus votos perante os que o temem.
²⁶ Os mansos comerão e se fartarão; louvarão ao Senhor os que o buscam; o vosso coração viverá eternamente.
²⁷ Todos os limites da terra se lembrarão, e se converterão ao Senhor; e todas as famílias das nações adorarão perante a tua face.
²⁸ Porque o reino é do Senhor, e ele domina entre as nações.
²⁹ Todos os que na terra são gordos comerão e adorarão, e todos os que descem ao pó se prostrarão perante ele; e nenhum poderá reter viva a sua alma.
³⁰ Uma semente o servirá; será declarada ao Senhor a cada geração.
³¹ Chegarão e anunciarão a sua justiça ao povo que nascer, porquanto ele o fez.
Explicação Versículo por Versículo – Salmo 22
Versículo 1
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas do meu auxílio e das palavras do meu bramido?”
O salmista inicia com um clamor de desespero, sentindo-se abandonado por Deus em um momento crítico. Essa é a mesma frase que Jesus cita na cruz (Mateus 27:46), conectando-se diretamente à dor humana e ao aparente silêncio divino.
Versículo 2
“Deus meu, eu clamo de dia, e tu não me ouves; de noite, e não tenho sossego.”
A dor é constante. Há busca por socorro tanto de dia quanto de noite, mas o sentimento é de ausência de resposta. A alma está inquieta.
Versículo 3
“Porém tu és santo, tu que habitas entre os louvores de Israel.”
Mesmo no sofrimento, há reconhecimento da santidade de Deus. O salmista não duvida do caráter divino, apenas expressa sua aflição.
Versículo 4
“Em ti confiaram nossos pais; confiaram, e tu os livraste.”
Ele relembra a fidelidade de Deus com gerações anteriores. Isso fortalece sua fé mesmo em meio à dor.
Versículo 5
“A ti clamaram e escaparam; em ti confiaram, e não foram confundidos.”
O salmista afirma que aqueles que confiaram em Deus não foram envergonhados. Isso mostra uma expectativa de que a mesma fidelidade divina se manifestará novamente.
Versículo 6
“Mas eu sou verme, e não homem, opróbrio dos homens e desprezado do povo.”
Aqui, ele expressa extrema humilhação. Sente-se inferior, insignificante, rejeitado e tratado com desdém.
Versículo 7
“Todos os que me veem zombam de mim, estendem os lábios e meneiam a cabeça, dizendo:”
O sofrimento se intensifica com a zombaria pública. Há escárnio e ridicularização por parte dos que o observam.
Versículo 8
“Confiou no Senhor, que o livre; livre-o, pois nele tem prazer.”
Os zombadores ironizam sua fé, desafiando Deus a salvá-lo. Essa cena é ecoada nos relatos da crucificação de Jesus.
Versículo 9
“Mas tu és o que me tiraste do ventre; fizeste-me confiar, estando aos seios de minha mãe.”
O salmista reconhece que sua vida sempre esteve nas mãos de Deus, desde o nascimento. Sua fé foi cultivada desde o início.
Versículo 10
“Sobre ti fui lançado desde a madre; tu és o meu Deus desde o ventre de minha mãe.”
Reforça a relação íntima e antiga com Deus. A confiança não surgiu no sofrimento, mas desde o início da vida.
Versículo 11
“Não te alongues de mim, pois a angústia está perto, e não há quem ajude.”
Ele implora pela presença divina, pois a dor se aproxima e nenhum auxílio humano é suficiente.
Versículo 12
“Muitos touros me cercaram; fortes touros de Basã me rodearam.”
Os “touros de Basã” simbolizam inimigos fortes e opressores. A ameaça é intensa e imponente.
Versículo 13
“Abriram contra mim suas bocas, como um leão que despedaça e que ruge.”
O salmista se sente atacado com ferocidade. Seus inimigos são como leões prontos para destruir.
Versículo 14
“Como água me derramei, e todos os meus ossos se desconjuntaram; o meu coração é como cera, derreteu-se no meio das minhas entranhas.”
Aqui, ele descreve a exaustão física e emocional. O corpo está sem forças e o coração está despedaçado.
Versículo 15
“A minha força se secou como um caco, e a língua se me pega ao paladar; e me puseste no pó da morte.”
A vida está se esvaindo. Há secura, sede e um sentimento de que a morte está próxima.
Versículo 16
“Pois me rodearam cães; o ajuntamento de malfeitores me cercou, traspassaram-me as mãos e os pés.”
Uma imagem direta de violência e injustiça. A expressão “traspassaram-me” é vista por muitos como referência profética à crucificação.
Versículo 17
“Poderia contar todos os meus ossos; eles veem e me contemplam.”
A dor é tão profunda que os ossos parecem visíveis. O sofrimento é assistido por outros, sem empatia.
Versículo 18
“Repartem entre si as minhas vestes, e lançam sortes sobre a minha roupa.”
Outra passagem conectada diretamente à crucificação. A humilhação é completa, até as roupas lhe são tiradas.
Versículo 19
“Mas tu, Senhor, não te alongues de mim. Força minha, apressa-te em socorrer-me.”
Mesmo diante da morte, o salmista clama por ajuda. Deus continua sendo sua única esperança.
Versículo 20
“Livra a minha alma da espada, e a minha predileta da força do cão.”
Ele suplica pela preservação de sua vida, pedindo livramento dos inimigos ferozes e cruéis.
Versículo 21
“Salva-me da boca do leão; sim, ouviste-me, das pontas dos bois selvagens.”
O salmista reconhece que Deus começou a responder. A virada começa: da súplica para a salvação.
Versículo 22
“Então declararei o teu nome aos meus irmãos; louvar-te-ei no meio da congregação.”
Promessa de testemunho público. Ele irá louvar a Deus diante de todos, em gratidão pela salvação.
Versículo 23
“Vós, que temeis ao Senhor, louvai-o; todos vós, semente de Jacó, glorificai-o; e temei-o todos vós, semente de Israel.”
Convite à adoração. O salmista exorta todo o povo a louvar a Deus.
Versículo 24
“Porque não desprezou nem abominou a aflição do aflito, nem escondeu dele o seu rosto; antes, quando ele clamou, o ouviu.”
Afirma que Deus não ignora o sofrimento. Ele ouve o aflito e responde com misericórdia.
Versículo 25
“O meu louvor será de ti na grande congregação; pagarei os meus votos perante os que o temem.”
Ele reforça seu compromisso de adorar publicamente e cumprir promessas feitas a Deus.
Versículo 26
“Os mansos comerão e se fartarão; louvarão ao Senhor os que o buscam; o vosso coração viverá eternamente.”
Há uma bênção para os humildes e buscadores. Eles serão alimentados e viverão com alegria duradoura.
Versículo 27
“Todos os limites da terra se lembrarão, e se converterão ao Senhor; e todas as famílias das nações adorarão perante a tua face.”
O salmista olha para o futuro. A salvação se estende às nações — um anúncio profético da adoração global.
Versículo 28
“Porque o reino é do Senhor, e ele domina entre as nações.”
Afirma a soberania de Deus sobre toda a terra. Ele é Rei absoluto.
Versículo 29
“Todos os que na terra são gordos comerão e adorarão, e todos os que descem ao pó se prostrarão perante ele; e nenhum poderá reter viva a sua alma.”
Ricos e pobres, vivos e mortos: todos estão sujeitos a Deus. A adoração é universal.
Versículo 30
“Uma semente o servirá; será declarada ao Senhor a cada geração.”
Uma linhagem de fiéis continuará a servir a Deus. O louvor será passado adiante, geração após geração.
Versículo 31
“Chegarão e anunciarão a sua justiça ao povo que nascer, porquanto ele o fez.”
As futuras gerações conhecerão a justiça divina. O que Deus fez será proclamado eternamente.

Contexto do Salmo 22
O salmo 22 é tradicionalmente atribuído ao rei Davi. Ele expressa um momento de profundo sofrimento, mas ao mesmo tempo uma fé inabalável na salvação que vem de Deus. Seu início dramático — “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” — tornou-se famoso por ter sido citado por Jesus na cruz, conforme os relatos dos evangelhos.
A conexão com a crucificação
Muitos estudiosos veem no salmo 22 uma prefiguração profética dos sofrimentos de Cristo. Elementos como “traspassaram minhas mãos e meus pés” e “repartem entre si as minhas vestes” são frequentemente associados à crucificação. Isso torna esse salmo um elo entre o Antigo e o Novo Testamento.
Estrutura poética e literária
O texto alterna entre lamentos intensos e afirmações de confiança. Isso cria uma progressão emocional que vai da escuridão à luz, da dor à esperança. A estrutura do salmo 22 é cuidadosamente construída para levar o leitor a uma jornada de transformação interior.

Significados e mensagens do Salmo 22
O abandono aparente
A dor do salmista é real e visceral. O sentimento de que Deus está distante reflete experiências humanas universais. O salmo 22 mostra que é legítimo clamar, questionar e até lamentar diante de Deus, sem que isso signifique perda de fé.
A lembrança do passado
Ao longo dos versos, o salmista relembra os feitos de Deus no passado. Isso serve como uma âncora para sua fé. Ele reconhece que, embora o presente seja doloroso, o Senhor sempre agiu com fidelidade.
A certeza da resposta
Mesmo em meio ao sofrimento, o autor do salmo 22 declara que Deus o ouvirá. Isso traz à tona uma mensagem poderosa: a dor não é o fim da história. Existe uma promessa de livramento, e a fé é o que sustenta enquanto esse livramento não chega.
Simbolismos no Salmo 22
O salmo 22 é repleto de imagens simbólicas que expressam angústia e redenção. Vamos analisar algumas dessas representações:
Animais como metáforas do sofrimento
O salmista menciona touros de Basã, cães, leões e outros animais selvagens. Eles simbolizam forças opressoras, inimigos impiedosos e perigos que cercam a alma aflita. A linguagem intensifica o drama e aproxima o leitor da experiência descrita.
O corpo dilacerado
Referências ao corpo enfraquecido, ossos expostos e mãos perfuradas ampliam o sofrimento descrito. Mais do que dor física, essas imagens representam a vulnerabilidade e a exposição total da alma diante de Deus.
A veste repartida
Outro símbolo poderoso do salmo 22 é o da veste dividida. Além de remeter à paixão de Cristo, esse detalhe mostra como o sofrimento pode vir acompanhado da humilhação e da perda de dignidade.
Interpretações espirituais do Salmo 22
Um salmo messiânico
Muitos veem o salmo 22 como um dos mais claros salmos messiânicos. As semelhanças com a crucificação de Jesus são marcantes, e a tradição cristã frequentemente usa esse texto em liturgias da Semana Santa.
Expressão de fé autêntica
Para além da teologia messiânica, o salmo 22 é um retrato fiel da alma humana em sofrimento. Ele ensina que a fé verdadeira não ignora a dor, mas atravessa a dor com esperança.
Aplicações pessoais
Quem nunca se sentiu abandonado, sem respostas, rodeado por desafios que parecem maiores do que a própria força? O salmo 22 nos ensina que podemos levar esses sentimentos diretamente a Deus, com confiança.
Curiosidades sobre o Salmo 22
- É um dos salmos mais citados no Novo Testamento.
- Era provavelmente entoado em momentos solenes de angústia nacional.
- Em algumas tradições, é lido na liturgia da Sexta-feira Santa.
- Seu tom de lamento contrasta com o salmo 23, que vem logo em seguida e traz consolo e paz.
- Alguns manuscritos antigos usam diferentes palavras para reforçar o sofrimento descrito.
Aplicações práticas do Salmo 22 no dia a dia
Para quem está sofrendo
O salmo 22 pode ser uma oração para quem se sente sozinho ou desamparado. Ele mostra que Deus ouve mesmo quando o silêncio parece reinar.
Para fortalecer a fé
Ler e meditar nesse salmo ajuda a desenvolver uma fé mais madura. Ele ensina que a confiança em Deus não depende das circunstâncias, mas da certeza de quem Deus é.
Para momentos de intercessão
O clamor do salmista pode inspirar orações de intercessão por outras pessoas que estão passando por provações. É uma forma de levar consolo e solidariedade por meio da Palavra.
Salmo 22 e a esperança da restauração
O final do salmo 22 aponta para restauração. Ele antecipa um tempo de louvor, comunhão e testemunho. Aquele que sofreu será vindicado. Esse desfecho nos lembra que a dor pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.

FAQ sobre o Salmo 22
O salmo 22 foi realmente escrito por Davi?
Sim, a tradição judaica e cristã atribui a autoria a Davi.
Por que o salmo 22 é tão importante para os cristãos?
Porque muitos versículos antecipam eventos da crucificação de Cristo.
É correto usar o salmo 22 em momentos de desespero?
Sim. Ele foi escrito justamente como expressão legítima de sofrimento e fé.
Qual a principal mensagem do salmo 22?
A dor não é o fim. Deus ouve, responde e transforma sofrimento em testemunho.
Conclusão
O salmo 22 é um dos textos mais impactantes da Bíblia. Ele une dor e fé de maneira autêntica, revelando o coração de alguém que, mesmo sentindo-se abandonado, continua a confiar em Deus. Ao estudá-lo, somos convidados a não esconder nossa dor, mas a apresentá-la diante do Criador com confiança. É um salmo que fala do hoje, mas aponta para a eternidade — onde toda lágrima será enxugada e todo clamor terá resposta.
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